terça-feira, 29 de dezembro de 2009

À beira da estrada...

Sentei-me à beira da estrada à tua espera. Pensava que acabarias por passar por ali.
Enquanto não via a luz do teu carro olhei para cima e vi que o céu estava estrelado. Tão estrelado como na noite em nos deitámos na relva e sonhámos com outra vida e com outra realidade. Talvez seja isso que mais dói em nós. Sabemos de antemão que o que nos traí é a realidade.
Voltei a olhar para a estrada e não me pareceu seres tu... permaneci sentada e nesse mesmo instante começou a chover.
Passas-te... tenho a certeza que desta vez era o teu carro. Mas da mesma forma que a água percorria todo o meu corpo, não fui capaz de me levantar e correr atrás de ti. Foi bem mais fácil afogar-me na tempestade.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Verde

A vertigem do teu olhar. Seria o que responderia caso me perguntassem o que mais me assusta em ti. Isto porque sempre que te olho nos olhos consigo entender tudo o que tens e o que não tens para dizer. E a maior parte das vezes preferia não entender que queres saltar desse abismo. Preferia não aceitar que não te tenho.
É de um verde tão aguçado que dá um aperto no coração.
Às vezes falas e eu nem oiço. Fico completamente pedrada no teu olhar e até sinto que o sentes. E depois fico envergonhada. Mas acho que nós somos isso mesmo. Não me consigo esconder de ti nem tu de mim.
Desde o primeiro segundo o que me agarrou a ele foi o olhar. Primeiro ficava perdido nos corredores, depois começou a ficar entranhado nos cafés bebidos à beira rio e mais tarde nos beijos que não foram dados. Porque em nós, mais importante do que é dito é aquilo que não é dito, porque é vivido. E acho que assim vou tendo menos por onde chorar, vou tendo menos por onde lamentar e iludindo-me com a ideia de que existes em mim.

domingo, 25 de outubro de 2009

Ou talvez não

Acho que todos nós devíamos ter uma pessoa que nos amasse de verdade...que enlouquecesse com a ideia de nos perder, que estivesse disposto a lutar por nós....Não que considere que todos nós o merecêssemos, mas pelo menos evitava-se um número inesgotável de dissabores e explicações que têm tudo menos de explicação.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

...

Naquele dia cheguei a casa e senti que faltava qualquer coisa, faltava qualquer cheiro, qualquer cor. Quando sai de casa não foi assim que deixei a minha realidade. Sentei-me na enorme poltrona que comprei com o dinheiro que juntei ao longo dos últimos meses "para relaxar e ler os meus livros, ao sabor de um bom copo de vinho" e só hoje percebi que além de ainda não gostar de vinho, o livro que iniciei há um ano atrás continua na mesma página. Curioso que o "Fazes-me falta" se encaixa tão bem no cenário. Sim, sinto falta de mim. Porque afinal não conquistei a cidade, não conquistei o Mundo e não me conquistei a mim. Afinal o meu canto não é mais encantador que outro qualquer canto, a minha poltrona não é mais relaxante que qualquer outra poltrona e o meu eu não é mais meu do que qualquer outro eu.
Lembro-me de subir ao telhado da minha casa no Sul. Ao Sul tudo parece mais transparente, tudo parece mais casa. Lembro-me de lhe dizer "um dia a minha vida vai ser minha" ao mesmo tempo que arranjava o vestido que havia ficado preso numa das telhas. Engraçado como, tal como o meu vestido, eu fiquei presa... e nem sei muito bem ao quê...só sei que o facto é que me falta o cheiro, me falta a cor, me falto eu.
Naquele dia liguei-te para saber se havia tempo para um chá. Talvez na tentativa de haver um motivo para sair e voltar a entrar, para não sentir falta de alguma coisa. Como sempre havia um monte de papel em cima da tua secretária que tinha de ser despachado ainda hoje porque "sabes, há prazos e se não levo isto amanha, mais vale não voltar lá a entrar" da mesma forma que se eu não saísse dali naquele momento, mais valia não voltar a entrar na minha vida. Às vezes não entendemos a urgência de um "chá rápido" mas de "uma papelada urgente" entendemos sempre. Talvez porque a nossa vida se tornou isso mesmo o "monte de papelada" e o nosso livro, a nossa poltrona, o nosso canto ficam atirados para um lado porque afinal de contas isso faz parte de nós e acabamos por nos atirar a nós mesmos para um lado.

sábado, 2 de maio de 2009

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Diferente em ti...

Lembras-te quando estavas sentado junto à janela a beber chá? Dizias ao mesmo tempo que talvez o tempo estivesse esquecido, que talvez o tempo se tivesse esgotado, que talvez o tempo fosse apenas tempo. Limitei-me a olhar para ti e não estraguei a tua frase. Pensei apenas que provavelmente a tua concepção de tempo fosse diferente da minha. Afinal de contas o que não era diferente em ti? Podia ter aproveitado o momento para dizer que o chá que bebias era exactamente o mesmo que eu bebia, a diferença é que sempre preferi bebe-lo encostada à cadeira de baloiço e tu no parapeito da janela; o que trazia um sabor diferente ao teu chá. Afinal o que não era diferente em ti?
Acho que nunca chegaste a sentar-te na minha cadeira, e eu apenas me limitei a olhar para a janela sem nunca me ter sentado no seu parapeito.
Às vezes, enquanto contavas as ondas que se enrolavam naquela praia, eu estava absorvida na minha dança e o fumo do meu chá acabava por se entrelaçar no meu corpo, numa tentativa de colmatar as falhas dos teus braços. E assim deixava nos meus cabelos aquele aroma a amora que nunca percebeste de onde vinha. Da tua ausência. Da tua distancia. Era de onde vinha o aroma a amora. Sem que te apercebesses que a mesma essência cobria as tuas mãos, por agarrares daquela forma a caneca do chá, para que te as aquecesse.
Se te pedisse agora para me dizeres quantas ondas tem o meu cabelo certamente não responderias, se me pedissem para dizer quantas rugas têm as tuas mãos, certamente responderei que tem tantas quantas as ondas do meu cabelo...porque no fim tens tanto de diferente como tens de mim....